terça-feira, 25 de outubro de 2016

Partido da educação



              

A Procuradoria-Geral da República (PGR) tomou posição na celeuma desencadeada pelo movimento Escola sem Partido. Em parecer enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), considerou inconstitucional a legislação do Estado de Alagoas patrocinada pelo grupo. A lei estadual que instituiu o Programa "Escola Livre" em Alagoas é inconstitucional, segundo parecer da Advocacia-Geral da União (AGU) publicado na última quarta-feira (20). O órgão do governo federal produziu o parecer para o julgamento de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) que tramita no STF contra a lei, que entrou em vigor no fim de abril deste ano. O Programa "Escola Livre" é uma versão inspirada no movimento "Escola sem Partido", grupo que divulga anteprojetos de lei estadual e municipal que buscam legislar sobre o que é ou não permitido ao professor debater dentro de sala de aula.

Partiu da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação a ação contra a Assembleia Legislativa alagoana. É questionável a norma estadual que veda a escolas públicas e particulares de "doutrinação política e ideológica, bem como quaisquer outras condutas por parte do corpo docente ou da administração escolar que imponham ou induzam aos alunos opiniões político-partidárias, religiosa ou filosófica". Historicamente a educação e a ciência sempre tiveram como antagonista visões conservadoras e posições que relembram os tempos de censura dos períodos ditatoriais. Arrostar contra a “Escola Sem Partido” significa, não só defender uma educação crítica (ou fazer com que ela se torne), mas sim derrotar os setores mais reacionários que querem impor uma derrota científico/intelectual a fim de abrir caminho para o logro religioso.

A iniciativa, criada por um grupo liderado pelo advogado Miguel Nagib, se apresenta como movimento de pais e estudantes. Contrários ao que consideram ser "contaminação político-ideológica das escolas", espalha pelo país um rastilho de desconfiança generalizada contra professores. Sobre o direito de os pais exigirem uma educação de acordo com suas convicções religiosas, é preciso escrever em letras garrafais que O ESTADO É LAICO. Isso não significa que ele deva combater a religião, que no Brasil algumas são até muito bem tratadas, com isenção de impostos, concessão de televisão, etc. Estado Laico significa que o conjunto de suas instituições não deve ser influenciada por questões religiosas e isso inclui a educação pública.
Paulo Freire
É considerado um dos pensadores mais notáveis na história da Pedagogia mundial, tendo influenciado o movimento chamado pedagogia crítica.


Litigiar legislações nos níveis municipal, estadual e federal com vistas a restringir o escopo do ensino e normatizar que a educação moral, sexual e política é competência só da família tem sido a avidez do “Escola sem Partido”. Apesar desse nome “simpático” para parte da população, essencialmente pelo fato de existir um rechaço às organizações políticas, gerada pelos inúmeros escândalos, existem elementos de fundo que precisam ser debatidos. O nome do projeto, em si, pouca relação tem com seu conteúdo, pois não se debate suprir a liberdade de organização partidária, mas promover uma verdadeira censura a educação brasileira.

A Procuradoria-Geral da República(PGR) não defende a doutrinação. Argumenta que a prática de eventuais abusos por alguns docentes não justifica impor o policiamento indiscriminado do que se diz e pratica em sala de aula. “Sem liberdade de ensinar e de aprender não há o próprio direito à educação", leciona o procurador-geral da República, Rodrigo Janot. "Entre a vedação apriorística de conteúdos e a liberdade de ensino, esta é preferível."

Basta passar os olhos por alguns livros didáticos para topar com exemplos flagrantes de obscurantismo religioso —por exemplo na versão capciosa de que a evolução biológica por seleção natural seria "apenas uma teoria" em que alguns autores destes livros sugerem. Para além da questão constitucional, os projetos de lei preconizados pelo movimento “Escola sem Partido” subestimam a capacidade dos próprios alunos –e de seus pais– de encarar de modo crítico o que se veicula nas escolas.
O papel da educação não deve ser um mediador de ideias antagônicas, pelo contrário. Cabe a educação ser o elemento reflexivo frente a acontecimentos concretos, para que possibilite gerações que não viveram determinados acontecimentos históricos a ter uma opinião crítica sobre ações que a humanidade já cometeu no passado e que ela seja o elemento consciente para impedir retrocessos.


Embora a campanha se apresente como liberal, em defesa do pluralismo, ela termina por revelar-se paternalista e retrograda ao pretender que aparelhos de Estado substituam os cidadãos no controle social do ensino oficial ou particular. Não se trata de "escola sem partido", mas de escola com religião (apenas uma forma de religião) e com censura. Trata-se da negação da própria ideia democrática de educação pública e laica. Da transformação da escola em espaço de validação da cosmo-visão conservadora e anticientífica. Estes se apresentam como defensores de uma escola “neutra”, “científica” e “plural”, como opositores da "doutrinação", mas que apressam em dizer que ideologia é o que é contrário as próprias crenças. Por fim, qualquer legislação do gênero padece de um vício de origem: a impossibilidade prática de apontar de modo inequívoco o conteúdo que seja partidário, ou quando um docente ultrapassa o limiar da “doutrinação”. Isso se deve a tentativa permanente de sucateamento da educação, com escolas sem uma estrutura mínima para se ter um laboratório de ciência, bibliotecas, professores com baixos salários e com pouco ou nenhum estímulo a ter formação continuada. Na dúvida, sempre é mais prudente tomar partido da liberdade na escola e liberdade da educação.

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

ERA Urgente - programação atualizada


Espaço de Reflexão Acadêmica (ERA) do Prodocência (Programa de Consolidação das Licenciaturas – CAPES) foi pensado para debater temas importantes relacionados à educação formal, colocando em contato pesquisadores e professores de diferentes níveis de ensino.


E.R.A. Urgente

Espaço de Reflexão Acadêmica - Prodocência - debates urgentes

Programação atualizada:


Próximos eventos

16/11 (qua, 17:30, sala IH05 - IFCH): Escola S.A. - sobre financiamento ou sobre PPPs (Josianne Cerasoli/DH/IFCH e Roberto do Carmo/DD/IFCH)

22/11: à confirmar.


Já realizados:

11/10 (ter, 19h): Manipulações da BCNN (Josianne Cerasoli/DH/IFCH; o material estará logo em nosso blog)

18/10 (ter, 16h, IFCH/IH05): Ensino Médio para que(m)? (Mariana Chaguri/DS/IFCH)


26/10 (qua, 17:30, vão do PB): Ensino Superior Público e Pago (Sávio Cavalcante/DS/IFCH)

1/11 (ter, 17:30, vão do PB): Conteúdos comprometidos na formação de professores (Helena de Freitas/FE e José Alves de Freitas/DH/IFCH)

8/11 (ter, 17:30, IH04 - IFCH): Escola Sem Partido X Cultura Democrática (Ronaldo de Almeida/DA/IFCH e Josianne Cerasoli/DH/IFCH)





Fiquem atentos as confirmações de palestrantes, locais e horários!

Reforma do Ensino Médio: os dois lados da moeda

Entrando de cabeça na discussão sobre a polêmica reforma do Ensino Médio, a MP 746/2016, o PRODOCENCIA organizou para você os pareceres de importantes entidades educacionais e de profissionais da educação a respeito deste tema que desde agosto deste ano tem acompanhado os debates que tangem a educação pública brasileira. A intensa mobilização, contrária e favorável à MP, fez com que impactantes posicionamentos surgissem transformando o campo educacional brasileiro num frutífero terreno de construção de alianças e pactos.

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Neste sentido apresentamos aqui os dois eixos principais da discussão e as suas respectivas instituições.

Favoráveis à MP


Posição da FENEP - Federação Nacional das Escolas Particulareshttp://www.fenep.org.br/artigos/o-ensino-medio-vai-mudar/

Posição do presidente do SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial e CNI - Conselho Nacional da Industria
http://www.portaldaindustria.com.br/cni/imprensa/2016/10/1,99250/inclusao-da-educacao-profissional-e-a-maior-conquista-da-reforma-do-ensino-medio-diz-diretor-geral-do-senai.html

Nota Pública Sociedade Brasileira de Matemática
https://avaliacaoeducacional.files.wordpress.com/2016/10/sbmapoiamp746.pdf

Contrários à MP 

Nota Pública do ANPEd - Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educaçãohttp://www.anped.org.br/news/nota-publica-da-anped-sobre-medida-provisoria-do-ensino-medio

Nota Pública CENPEC - Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária
http://www.cenpec.org.br/2016/09/23/confira-a-posicao-do-cenpec-sobre-a-proposta-de-reformulacao-do-ensino-medio/


Nota Pública SBS - Sociedade Brasileira de Sociologia
http://www.sbsociologia.com.br/home/index.php?formulario=noticias&metodo=0&id=73

Nota Pública UBES - União Brasileira dos Estudantes Secundaristas
http://ubes.org.br/2016/ubes-nota-de-repudio-a-mp-do-ensino-medio/

Nota Pública CBCE - Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte
http://www.cbce.org.br/noticias-detalhe.php?id=1164

Nota Pública CONIF - O Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológicahttp://portal.conif.org.br/ultimas-noticias/1037-carta-de-vitoria.html

Nota Pública CEDES - Centro de Estudos Educação e Sociedade
http://www.anped.org.br/sites/default/files/images/nota_do_cedes_contra_mp_746.pdf


sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Bancada Evangélica vai comandar discussão sobre escola sem partido

http://educacao.estadao.com.br/noticias/geral,bancada-evangelica-vai-comandar-discussao-sobre-escola-sem-partido,10000083205

Integrantes da bancada evangélica da Câmara vão comandar os trabalhos da comissão especial que analisa a proposta conhecida como "Escola sem Partido". O colegiado, que vai ser presidido pelo deputado Marcos Rogério (DEM-RO), escolheu nesta quarta-feira, 19, o deputado Flavinho (PSB-SP) como relator da matéria.

terça-feira, 18 de outubro de 2016

Qual é a cara do Ensino Médio brasileiro? (ERA URGENTE)

Entrevista com o professor Gaudêncio Frigotto

Esquenta do ERA 18/10/2016 no IFCH/Unicamp às 19hs


Tema: Ensino Médio Para Que(m) ?

Local: Sala IH 04 (IFCH)

“Abordar o Ensino Médio, ou a educação em geral, é tentar entendê-lo do ponto de vista de como ele foi sendo produzido historicamente. E de fato o Brasil praticamente não tem Ensino Médio rigorosamente, em quantidade e em qualidade”.             
                                                                          -Gaudêncio Frigotto

Hoje começa o primeiro ERA URGENTE (Espaço de Reflexão Acadêmica), e para aquecer o debate segue link da entrevista que o Professor Gaudêncio concedeu ao site Ensino Médio em debate ( Click Aqui) .




"O apagão do Ensino Médio"  é um dos tópicos apresentados na entrevista do Professor Gaudêncio e que ilustrara bem a atual condição que se encontra as políticas educacionais, e os objetivos proposto pela  reforma do Ensino Médio, e as pautas já encaminhadas do Escola sem Partido. A metáfora apagão revela como se pensa resolver o problema da educação por um simples ato como o de religar a chave.

 Gaudêncio Frigotto é docente da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), autor de livros e artigos sobre educação e reconhecido como um analista crítico do sistema educacional brasileiro.