Por Flávia Longo
Este é o primeiro de uma série de textos sobre algumas das relações que se estabelecem entre dinâmicas de população, estudos demográficos e questões educacionais.
Este é o primeiro de uma série de textos sobre algumas das relações que se estabelecem entre dinâmicas de população, estudos demográficos e questões educacionais.
***
Por
que filhos tendem a ter uma escolaridade maior que a geração de seus pais?
Como outros países lidam com a demanda por vagas escolares? Na luta pelo fim do
analfabetismo, será que a Demografia, enquanto disciplina científica, teria
alguma contribuição? O que explicaria a redução de matrículas em determinados
níveis de ensino? Como os gestores públicos e secretários de educação podem
fazer melhor uso do que a Demografia tem a oferecer?
Assumo
o pressuposto de que as interações entre Demografia e Educação beiram a
dialética. Existe toda uma agenda de pesquisa aberta entre esses dois
campos de pesquisa e a proposta deste espaço é trazer um texto por semana,
procurando indicar algumas possibilidades quando pensamos dinâmicas
populacionais e educação.
Quantos
somos e quem somos são duas perguntas básicas que a Demografia procura
responder. Os eventos que modificam a estrutura (idade) e composição (sexo) de
uma população, juntamente aos componentes principais da dinâmica demográfica
(natalidade, mortalidade e migração), são também objetos de interesse desse
campo científico.
Talvez
a entrada que mais aproxime dinâmica demográfica e Educação seja o fato de que
a população é quem demanda por infraestrutura e serviços educacionais. O número
de filhos que as mulheres tinham há seis, quinze ou vinte anos (fecundidade do
passado), bem como suas chances de sobrevivência, impactam a demanda atual por
vagas na Educação Infantil, Fundamental, Média e Superior. O fato de um evento
demográfico passado refletir na estrutura etária presente é denominado inércia
demográfica.
A
Educação, por sua vez, entendida por meio dos níveis de escolaridade torna-se um
importante diferencial dos comportamentos demográficos: populações mais
escolarizadas tem menores taxas de fecundidade, de mortalidade e maior média de
expectativa de vida. Alguns fluxos migratórios também podem ocorrer em função
da escolaridade, seja pela busca de uma melhor qualificação profissional ou
pela “fuga” dos altamente escolarizados.
Um
terceiro ponto de intersecção entre Demografia e Educação são as políticas
públicas educacionais. Um cuidado neste tipo de incursão é de não cair no
reducionismo de uma “contabilidade social”, termo utilizado no século XIX por
pioneiros da Demografia. Isto significa dizer que a Demografia não se resume a
dados estatísticos acerca da população escolar e em idade escolar – e a utilização
destes na articulação de uma engenharia social. O campo dos estudos
demográficos conta com abordagens e técnicas que podem enriquecer a formulação
e avaliação das políticas públicas, em especial aquelas que se referem aos
sistemas educacionais.
Além
do desenvolvimento dos três tópicos aqui expostos, pretendo explorar nos
próximos textos aspectos ligados às abordagens teóricas, fontes de dados e aos métodos
para pesquisa em educação - tudo isso para tentar lançar alguma luz sobre as
perguntas com as quais começamos esta conversa.
Para saber mais:
1. CUNHA, J.M.P. Demografia e educação: incursões preliminares, Campinas, NEPO-UNICAMP. Textos NEPO, v38, 2000.
2. RIOS-NETO, E.L.; RIANI, J.L.R. Introdução à demografia da educação. Abep, 2004.
***
A
autora agradece à leitura prévia e aos comentários dos professores Dr. Roberto
do Carmo e Dra. Josianne Cerasoli (IFCH/Unicamp).
***
Flávia
Longo é mestre e doutoranda em Demografia pelo Instituto de Filosofia e
Ciências Humanas, Unicamp. Formada em Ciências Sociais pela mesma instituição, acredita
no potencial transformador do ensino e da pesquisa para oferecer respostas às
questões sociais. Contato: flavialongo@nepo.unicamp.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário