quarta-feira, 26 de abril de 2017

Demografia e Educação I – Algumas relações


Por Flávia Longo

Este é o primeiro de uma série de textos sobre algumas das relações que se estabelecem entre dinâmicas de população, estudos demográficos e questões educacionais.

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Por que filhos tendem a ter uma escolaridade maior que a geração de seus pais? Como outros países lidam com a demanda por vagas escolares? Na luta pelo fim do analfabetismo, será que a Demografia, enquanto disciplina científica, teria alguma contribuição? O que explicaria a redução de matrículas em determinados níveis de ensino? Como os gestores públicos e secretários de educação podem fazer melhor uso do que a Demografia tem a oferecer?
 
Assumo o pressuposto de que as interações entre Demografia e Educação beiram a dialética. Existe toda uma agenda de pesquisa aberta entre esses dois campos de pesquisa e a proposta deste espaço é trazer um texto por semana, procurando indicar algumas possibilidades quando pensamos dinâmicas populacionais e educação. 

Quantos somos e quem somos são duas perguntas básicas que a Demografia procura responder. Os eventos que modificam a estrutura (idade) e composição (sexo) de uma população, juntamente aos componentes principais da dinâmica demográfica (natalidade, mortalidade e migração), são também objetos de interesse desse campo científico.

Talvez a entrada que mais aproxime dinâmica demográfica e Educação seja o fato de que a população é quem demanda por infraestrutura e serviços educacionais. O número de filhos que as mulheres tinham há seis, quinze ou vinte anos (fecundidade do passado), bem como suas chances de sobrevivência, impactam a demanda atual por vagas na Educação Infantil, Fundamental, Média e Superior. O fato de um evento demográfico passado refletir na estrutura etária presente é denominado inércia demográfica. 

A Educação, por sua vez, entendida por meio dos níveis de escolaridade torna-se um importante diferencial dos comportamentos demográficos: populações mais escolarizadas tem menores taxas de fecundidade, de mortalidade e maior média de expectativa de vida. Alguns fluxos migratórios também podem ocorrer em função da escolaridade, seja pela busca de uma melhor qualificação profissional ou pela “fuga” dos altamente escolarizados. 

Um terceiro ponto de intersecção entre Demografia e Educação são as políticas públicas educacionais. Um cuidado neste tipo de incursão é de não cair no reducionismo de uma “contabilidade social”, termo utilizado no século XIX por pioneiros da Demografia. Isto significa dizer que a Demografia não se resume a dados estatísticos acerca da população escolar e em idade escolar – e a utilização destes na articulação de uma engenharia social. O campo dos estudos demográficos conta com abordagens e técnicas que podem enriquecer a formulação e avaliação das políticas públicas, em especial aquelas que se referem aos sistemas educacionais.

Além do desenvolvimento dos três tópicos aqui expostos, pretendo explorar nos próximos textos aspectos ligados às abordagens teóricas, fontes de dados e aos métodos para pesquisa em educação - tudo isso para tentar lançar alguma luz sobre as perguntas com as quais começamos esta conversa.

Para saber mais:

1. CUNHA, J.M.P. Demografia e educação: incursões preliminares, Campinas, NEPO-UNICAMP. Textos NEPO, v38, 2000.
2. RIOS-NETO, E.L.; RIANI, J.L.R. Introdução à demografia da educação. Abep, 2004.

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A autora agradece à leitura prévia e aos comentários dos professores Dr. Roberto do Carmo e Dra. Josianne Cerasoli (IFCH/Unicamp).

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Flávia Longo é mestre e doutoranda em Demografia pelo Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Unicamp. Formada em Ciências Sociais pela mesma instituição, acredita no potencial transformador do ensino e da pesquisa para oferecer respostas às questões sociais. Contato: flavialongo@nepo.unicamp.br

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